por Flaviana Ribeiro
Teve um período da minha vida profissional que eu praticamente morava num carro. Foi um ano inteiro somando quilômetros e horas de estrada. Nessa época, o Spotify estava nascendo e os primeiros podcasts nem sonhavam em existir, então eu ouvia muito audiobook. O formato era péssimo, as narrações cansativas, mas otimizava meu tempo e rendia ótimos insights.
Em um dia de trânsito parado na rodovia entre Campinas e São Paulo, coloquei um pendrive com um livro novo: Davi e Golias, do Malcolm Gladwell. A narração era sofrível, mas a mensagem era boa. Eu tinha acabado de abrir minha primeira empresa. Ouvir sobre como o menor e mais fraco poderia usar velocidade e criatividade para superar o maior e mais forte, fazia todo sentido naquele momento. Eu precisava fazer da minha aparente fragilidade uma fortaleza.
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Corta para 2023. Não passo mais tanto tempo na estrada, mas mantive o hábito de escutar histórias enquanto dirijo. E o que mais ouvi nos últimos dias foram explicações, opiniões e notícias sobre o ChatGPT. Se você não sabe o que é isso, volte duas casas – é o assunto do momento. Eu estava preocupada e tinha meus motivos. Parte do meu trabalho no marketing é produzir conteúdo e a notícia de que um chatbot podia ser assustadoramente eficiente escrevendo, caiu como uma bomba no mercado.
Primeiro passo foi estudar o inimigo. E aí ficou claro que o inimigo era eu mesma. Chocada com as habilidades de escrita surpreendentes do chat, demorei um pouco para entender que ele não era o Golias, mas a arma que eu precisava para partir para o combate. Volta para o Gladwell. Você conhece a história: Davi não era um baixinho azarão. Era um cara muito inteligente que aproveitou sua melhor habilidade para superar a força e armadura de Golias.
Semana passada, li novamente Davi e Golias. Os livros do Gladwell são repletos de protagonistas reais e acho que é por isso que gosto tanto da leitura. Gente de verdade possui um fragmento essencial para que o marketing faça sentido: a emoção humana. E esta é a grande sacada! As marcas que souberem combinar essa habilidade com as tecnologias de Inteligência Artificial e automação serão capazes de oferecer uma experiência autêntica, eficiente e de alta qualidade em um mercado cada vez mais competitivo.
Acredite, é necessário mais do que um robô para produzir conteúdo. Do outro lado ainda precisamos de um ser humano que tenha estratégia e algumas horas de voo para indicar as coordenadas certas para a máquina. Assim, ser ou não derrotado pelo ChatGPT - ou por qualquer outro profissional mais experiente que você - vai depender de suas habilidades para se adaptar e participar dessa evolução.
Como Davi diante de Golias, determinação, resiliência e conhecimento sobre aquilo que você faz podem ser a chave para vencer um gigante.
Flaviana Ribeiro, Diretora de Comunicação e Marketing da Apeti (Associação dos Profissionais e Empresas de Tecnologia da Informação).
https://www.diariodaregiao.com.br/opiniao/artigos/davi-e-golias-como-vencer-um-gigante-1.1053907